sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ossos do ofício

Há três ofícios que me fascinam. O primeiro é a Engenharia Civil. A arte de construir pontes, túneis, arranha-céus, no fundo, todas aquelas construções que, aparentando desafiar as leis da Física, nada mais fazem senão as respeitar.
O segundo é a Física. A arte de perceber o porquê das coisas serem como são e não serem de maneira diferente. Na Física, transcendo-me essencialmente com a Cosmologia.
O terceiro é a Medicina, na sua vertente de investigação. A arte de compreender o funcionamento do corpo humano e a busca incessante pela sua eternização.

São três ofícios diferentes.
O engenheiro civil não pode inventar muito. Aprende as leis fundamentais e, respeitando-as, ergue a sua obra.
Já o engenheiro físico pode pôr tudo em causa. O seu trabalho é descobrir as leis fundamentais, mas um cosmólogo nunca deixará obra "visível".
Por outro lado, o médico investigador é uma espécie de engenheiro físico na procura de leis fundamentais. A diferença é que olha para dentro e não para fora.

No fundo, o meu fascínio por estes três ofícios resume-se na obra visível do primeiro e na capacidade de compreensão para além do visível dos outros dois. Na história que levamos da Humanidade, custa-me perceber como sabemos hoje tanto sobre Física e Medicina. Dezenas de milhares de anos parece-me pouco tempo para tanto conhecimento. Ao invés, não me surpreendem as construções dos dias de hoje. Partindo da minha ignorância sobre os três ofícios, acredito que esta percepção esteja relacionada com o facto de me parecer mais difícil descobrir as tais leis fundamentais, do que realizar algo a partir delas.

Pergunto-me então o que faço eu em Gestão?
Um gestor não ergue edifícios, nem descobre leis fundamentais. Não constrói pontes nem desvenda mistérios da nossa Humanidade.
Mas um gestor acaba por ser um elo importante entre as diversas dimensões e ofícios da nossa sociedade. Na definição de objectivos, na correcta alocação de recursos, na motivação dos intérpretes ou no controlo dos caminhos traçados.

Acima de tudo, acho que cada um de nós gosta de fazer aquilo que sente que é realmente bom a fazer. Eu não seria um grande físico. Também não tenho feitio para trabalhar em investigação médica. Já quanto a construir pontes e edifícios, talvez tivesse a ver comigo.

Mas, para o caso de isso nunca vir a acontecer, é melhor ir fazendo a "gestão" das minhas próprias expectativas. Neste ofício, normalmente saio-me bem.