domingo, 8 de março de 2015

Inerte, inconsciente, ausente. Morto. Perante a morte, celebro a consciência.
A capacidade de nos apercebermos de nós próprios, de olharmos em volta e de questionarmos. Atributo exclusivo dos seres inteligentes. Recente.

Tento imaginar uma existência inconsciente, que apenas existe. Sem se questionar. A existência amoral de mares e terra. A rotação mágica da Terra. Sem que pedras se toquem, nuvens se cansem ou marés se acalmem. Tempos atrás de tempos num ritmo vertiginosamente lento.
Que significado tem a morte neste mundo?

Aparece a Vida. No mar ou em terra, seres vivos inconscientes sucedem-se interminavelmente nascendo e perecendo indefinidamente. Insectos, répteis ou mamíferos cessam a sua existência em momentos desprovidos de qualquer emoção ou sem que lhes seja atribuído qualquer significado.
Que significado tem a morte neste mundo?

A complexidade aumenta, no entanto. As emoções são adicionadas à equação e sente-se a morte. Ainda que mantendo-se desprovida de qualquer significado. Seres vivos celebram o nascimento e a morte. Um qualquer primata sente a tristeza da partida de um dos seus sem que lhe seja dada a faculdade de questionar aquele momento. Apenas sente.
Que significado tem a morte neste mundo?

Mas algures na seta do tempo, apercebemo-nos de nos próprios. E questionamos. Individualizamos. Criamos o Eu. Celebramos o seu nascimento. E questionamos a morte. Procuramos um significado que nunca até então foi procurado. Procuramos uma razão que até então não existia. Procuramos. Providos de uma consciência durante muito tempo inexistente. Conscientes da vida. Conscientes da morte.

Deitado sobre a terra, encostado a uma árvore, sinto a minha existência. O sol resplandece no meu corpo, sinto o peso da gravidade. As raízes de uma árvore abraçam-me como uma mãe abraça um filho. Sinto o regresso à origem. O fim. Sem respostas. Em paz. Conscientemente inconsciente.
Porque precisaria a morte de ter um significado neste mundo?

Na Vida, o que é verdadeiramente extraordinário, não é a morte. É a consciência.