domingo, 12 de janeiro de 2014


Existo, logo penso.

Adaptámo-nos. Evoluímos. A partir de formas de vida elementares tornámo-nos seres vivos evoluídos, inteligentes, conscientes. Notável. Seria uma questão de tempo? Os milhares de milhões de anos em que assentou esta evolução explicam tudo? Seria uma inevitabilidade? Creio que sim. Que a inteligência surgiria sempre como resultado da nossa interacção com o mundo que nos rodeia e que a consciência surgiria sempre como resultado da evolução da nossa inteligência.

Há, no entanto, uma condição necessária: a Vida. E o período durante o qual o nosso universo existiu sem Vida, é muito superior àquele em que existiu. Em rigor, no calendário cósmico, a Vida apareceu no início de Outubro. E teria que haver necessariamente Vida? É difícil pensar que não, embora a biologia nos sugira que apenas extraordinárias coincidências ao longo do tempo a tornaram possível. Mas num calendário cósmico em que o Homem existe apenas no último dia do ano do calendário é impossível não pensar que o tempo, tanto tempo, permita o seu aparecimento. Teremos sempre companhia. É uma questão de tempo.

Mas imaginemos que a Vida não tinha aparecido ou até que não tínhamos evoluído para qualquer forma de vida inteligente. O nosso planeta já esteve nesse estádio de evolução. Sem inteligência, inconsciente. E de que serve um mundo inconsciente? Qual o seu sentido e propósito? Terá que ter um propósito? Creio que não. É um mundo focado apenas na sua existência, na sua matéria. Inerte. Sem interpretações alheias. Livre. Mas sem propósito. Sem rumo, sem objectivos. Num estado bruto. Belo. Mas sem consciência dessa beleza.

Mas surgiu a Vida. E com esta, a inteligência e a consciência. Do Homem e do Universo. Heródoto, historiador grego, escreveu há quase 2.500 anos que "De todos os infortúnios que afligem a humanidade, o mais amargo é que temos de ter consciência de muito e controle de nada."
Ainda assim, seria preferível não ter consciência? Claro que não. Acredito que a consciência é o verdadeiro motor da nossa civilização. Omnipresente. Que nos permite valorizar a Vida e orientar a nossa inteligência. E que ao mesmo tempo, põe a nu todas as nossas limitações.

Não nos resta alternativa a tomarmos consciência das nossas acções, de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. Até porque não é uma opção. Descartes disse que “Penso, logo existo” quando teve a certeza da sua existência porque pensou, porque duvidou de todo o seu conhecimento. Pois eu tenho a certeza que existo, logo penso. E escrevo.