quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Visitei os Masai...


...numa das suas aldeias minúsculas perdidas na planície do Serengeti. O dia estava quente e um forte vento levantava uma nuvem enorme de poeira fina que se alojava nos nossos corpos. Fui recebido por um rapaz de vinte e três anos. Tinha os dentes amarelos, sujos e podres. Emanava um cheiro inesquecível. Sobre a sua pele negra tinha apenas um manto vermelho característico dos Masai.

Mostrou-me as suas casas. O espaço dará para cerca de três pessoas deitadas. A altura não é superior a um metro e meio. Assim que entro deparo-me com uma fogueira (!), a cozinha diz-me ele. Numa das paredes, um buraco por onde entra luz, muito pouca luz. Cinco minutos de conversa e diz-nos que num dos cantos está uma Masai a dormir. Penso como foi possível não termos dado conta.

Comem apenas carne, leite e sangue das duas vacas. Saem das suas aldeias para pastar o gado, para trocar alguns bens e para lutar. Chegam a andar setenta kilómetros sem beber nem comer para trocar uma vaca que adoeceu. Andam descalços ou em chinelos improvisados a partir de restos de pneus. Nas suas aldeias ficam também apenas o tempo possível até que uma qualquer doença os ataque e obrigue a procurar outro refúgio. Nestas andanças, encontram outras tribos com quem se degladiam até à morte. Dos grandes animais que os rodeiam não têm medo; "eles é que têm medo de nós!"

Vejo muitas mulheres. Também homens e crianças, mas em menor número. No entanto, quase não vejo idosos. Perguntei onde estavam, quase adivinhando uma resposta que me levasse a confirmar uma esperança média de vida muito curta. Disse-me que andam por aí. O seu pai tem noventa e oito anos e anda a pastar gado. Não sabe onde está. Já não o vê há alguns dias…

Impressionam neste contacto as condições de vida deste povo que não se aproximam sequer daquilo que consideramos serem limites mínimos. Não vale sequer a pena comparar os seus níveis de educação com os nossos. A diferença de conhecimentos sobre o mundo que nos rodeia e sobre a evolução da nossa própria espécie é enorme traduzindo-se, a meu ver, em diferentes níveis de consciência civilizacional.

Nada disto tem que ver, no entanto, com a felicidade. Esta é o resultado das nossas conquistas e frustrações e independente do nosso estádio de desenvolvimento.

Dizer que estas pessoas são menos felizes que outras quaisquer num mundo desenvolvido seria tão idiota quanto aceitar que uma civilização mais avançada do que a nossa fizesse o mesmo julgamento em relação a nós.

Se é que ainda não o fez…