sábado, 16 de março de 2013

Penso todos os dias na morte


E pergunto-me se será assim com toda a gente.  Não há dia em que conduza que não pense num acidente fatal. Ou em que corra na rua e que não pense num atropelamento. Ou na morte de um familiar. Ou num ataque cardíaco ou doença fatal. 

Tenho uma relação simultaneamente próxima e distante da morte. Por um lado, penso constantemente nela. Por outro, nunca a vivi de muito perto. Nem com amigos próximos, nem familiares próximos. O mais perto que convivi com ela, por incrível que pareça, foi na morte, há alguns anos, da minha avó paterna que vivia...na Austrália.

E tenho algo parecido com uma hierarquia de pensamento. Em primeiro lugar, a constância do meu pensamento é comigo mesmo. Depois, avós, pai, filhas, mulher, irmãos, aqueles que mais amo. Mas há alguém no meio destes pensamentos que nunca aparece: a Mãe. Qual a razão? Não descortino razão nenhuma que não seja a ideia de infalibilidade da nossa Mãe. Aquela que estará sempre lá, sempre que precisarmos. É um sentimento provavelmente simétrico ao que sinto enquanto Pai. Porque nunca fui muito de pensar na morte… antes de ser Pai.

Não meço a tragédia da morte por aquilo que deixaria de fazer, mas pelo sofrimento que causaria a outros. Não acredito e nunca acreditei em nada para além da morte. Tenho uma visão infinitamente finita da Vida. Terei medo da morte? Porque penso tanto nela? 

Em boa verdade, vivo com normalidade pensando diariamente na morte. Não me apavora, não me incomoda, não me assusta. É apenas um aviso constante, permanente, uma consciência da vida que me alerta para o perigo que me rodeia. Ou talvez uma obsessão de tudo tentar controlar e antever. 

Penso muito nos últimos momentos de vida. Que pensamentos me ocorrerão nesse momento? Quais as perguntas que farei? Procuro as perguntas certas e tento criar as respostas todos os dias da minha vida. Que pai fui? Que marido? Filho? Neto? Cidadão? Ser humano? Que valor acrescentei? Qual o meu contributo para a civilização? Serão estas as perguntas certas? Pela ordem certa? Serão muito diferentes das vossas?

Não tenho medo da morte. Mas tenho um medo terrível do balanço que fizer nos últimos instantes de vida. Do balanço que eu fizer de mim mesmo. Não tenho medo da morte. Mas tenho muito medo de não viver a Vida.

"Death Is Very Likely The Best Single Invention Of Life. It Is Life’s Change Agent.”, Steve Jobs