sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Free Will

Seremos totalmente livres e donos inequívocos dos nossos comportamentos e acções? Teremos livre vontade? Existe "free will"? Ou não?

Se acreditamos que sim, que somos absolutamente livre, então cada decisão que tomamos tem de ser independente das decisões e experiências passadas. Não existe, nesse caso, um determinismo nem uma definição a priori.
Pelo contrário, podemos acreditar que essas mesmas acções estão predeterminadas e que as nossas acções e decisões são aquelas que sempre decidiríamos em função de sermos quem somos.

Seremos livres, por exemplo, para escolher as nossas opções religiosas?
Seremos totalmente responsáveis por crimes que cometamos?

A nossa consciência é livre, a meu ver, no momento da concepção. Não partilho a visão de Rousseau, segundo a qual nascemos bons sendo a sociedade que nos corrompe. Mas também não partilho a visão de Hobbes, segundo a qual nascemos como bestas sendo a sociedade que nos resgata desse bestialismo.

Mas nascer conscientemente livres não significa que sejamos totalmente livres de determinar as nossas acções. A nossa autodeterminação é condicionada desde o primeiro segundo de vida.

Somos ou não condicionados ao nascer com uma deficiência física?
Somos ou não condicionados por não encaixar física ou psicologicamente no padrão normal?

Perdemos graus de liberdade no exacto instante em que somos comparados com o referencial humano a que chamamos de sociedade. Porque temos a mais. Porque temos a menos. Porque somos mais isto. Porque somos menos aquilo.

Até esse preciso instante não somos nem bons nem maus, não temos qualquer tipo de condicionante. Mas a partir desse momento começamos a coleccionar experiências. A percepcionar as reações das pessoas que nos rodeiam. A estabelecer relações de causalidade com as decisões que tomamos. Se decido arriscar, acontece isto. Se sou mais prudente, acontece aquilo.

Somos livres para determinar as nossas acções? Somos, mas...num contexto longamente determinado pela nossa experiência e pela envolvente moral e ética, pela sociedade. Quão livre sou se todo o padrão ético e moral está predefinido? Sou mesmo livre? Ou sou-o apenas na medida exacta dos graus de liberdade que me são permitidos? E que valor tem esse padrão? Potencia-me enquanto indivíduo ou coarta a potência que existe em mim?

Esse referencial que define a Humanidade não é algo de intrínseco e imutável. Resulta da individualidade de cada um e da sua coexistência. Tenho para mim que esse referencial não maximiza a diversidade e o potencial individual; ao mesmo tempo que acredito que maximize o potencial colectivo. Porque o instinto mais básico é o da sobrevivência. E a sobrevivência individual depende da sobrevivência colectiva. É um padrão que harmoniza e igualiza o indivíduo mas que procura simultaneamente as melhores condições de coexistência e sobrevivência colectiva.

Não somos totalmente livres. Em reflexões anteriores descrevi três tipos de pessoas: As que se comparam com o que acham que deviam ser; as que se comparam com o que querem ser; e as que não se comparam com nada nem ninguém. Resta referir que todas elas são comparadas com aquilo que a sociedade acha que deviam ser. Comparadas com a identidade Humana. As escolhas que cada indivíduo faz durante a sua vida definem a humanidade que conhecemos hoje. Para o bem e para o mal, toda e qualquer escolha que fazemos, define-nos individual e colectivamente. Contribuimos para a definição de um padrão ético e moral em cada escolha que fazemos.

Existe melhor/maior estimulo para fazermos as nossas escolhas (mesmo que não totalmente livres)? Estando em maior ou menor medida condicionados pelas escolhas passadas, temos um poder fantástico de poder fazer a diferença para o futuro. Todas as nossas escolhas, acções e decisões determinam a evolução do conceito de Humanidade.

Não somos livres...porque somos humanos. Não somos livres...porque temos memória. Não somos livres...porque temos consciência da nossa humanidade. Mas quem sou "eu" então? Sou apenas o resultado de todas as escolhas que fiz? Não. Aquilo que somos não é nunca algo de absoluto. Seremos sempre definidos relativamente a um referencial móvel. Mas podemos contribuir para a definição desse referencial. O que significa que sermos bons ou maus, bonitos ou feios não está apenas em nós mas também nesse referencial móvel - a sociedade - que temos a capacidade inequívoca de ajudar a definir.

"The world is a dangerous place, not because of those who do evil, but because of those who look on and do nothing." - Albert Einstein

3 comentários:

  1. Já leu Allan Kardec? Uma coisa é certa, todos temos livre arbítrio e a nossa liberdade reside, penso, nesse aspeto.

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  2. É interessante como exercício filosófico.
    Mas do (meu) ponto de vista, meramente, de senso comum, diria que “ser livre” é, com conhecimento, um individuo poder fazer as suas escolhas (boas ou más), respeitando sempre o próximo, na sua liberdade, dignidade e valores.
    Assim sendo, se alguém com determinado estatuto profissionalnesse papel trata o outro com prepotência e arrogância, então NÃO é um “ser livre”. Fica refém do seu poder, e fere a liberdade/a dignidade do outro!

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  3. Esta sua teoria tem a ver com o que escreveu sobre a felicidade.Na vida tudo está relacionado.A meu ver,ser feliz depende em parte do que escolhemos para a nossa vida, em algum momento, em algum lugar, em algum tempo. Nunca sabemos ao certo se foi a melhor escolha.Vivemos a nossa vida de acordo com o destino que nos foi traçado.Acredito piamente no destino.Nada é por acaso. Fazemos o possível para ter um futuro melhor, uma vida mais cheia de êxitos , tudo o mais mas.... se não tiver que ser não é.Há quem se esforce e consiga o que ansiou porque têm a força que lhes foi concedida e tem o carisma,uma missão a efectuar.Essas pessoas têm com certeza um propósito nesta vida como todos nós.Cada ser tem o seu. Podemos escolher e tentar ser por exemplo"ricos" em dinheiro, em bens, e nunca alcançarmos esse fim.Porquê?De repente algo na nossa vida fez com que não fosse possível.Livre arbítrio? Por vezes podemos tentar algo que muito ansiamos, que queremos muito, que nos enche o coração mas... e o resto? Como escreveu,a nossa sobrevivência ? A dos outros? A felicidade de quem nos cerca? Se pensarmos só em nós talvez...As pessoas que pensam só nelas talvez consigam usar melhor o livre arbítrio e ser mais felizes. No entanto há a meia dose para os outros, tentar usar esse livre arbítrio sem magoar ninguém.Acho difícil...enfim. Ser feliz ou infeliz e ser livre ao mesmo tempo é tarefa árdua.Depende sobretudo dos outros e da sociedade em que estamos inseridos.
    Sempre, gosto do que escreve porque faz-me pensar.É bom pensar e reflectir sobre nós "Humanos".

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