terça-feira, 8 de agosto de 2017

O que é a felicidade?



É um conjunto de sensações físicas e emoções agradáveis ou é mais do que isso? É a felicidade o desígnio das nossas vidas?
O que era a felicidade para os nossos antepassados? O que é ser-se feliz em África há 5 milhões de anos quando dormimos em cavernas, aquecemo-nos com peles de animais e a principal actividade diária é caçar/pescar para comer, avançando em novos territórios quando a comida acaba ou as doenças aparecem?
E o que é ser-se feliz quando não temos plena consciência de nós próprios? Admitamos que antes de termos consciência de nós próprios não existe um conceito de felicidade. Existem apenas boas e más sensações e emoções. Vivemos o momento, sem expectativas, em pleno mindfulness.
Em 99% do tempo em que o Universo existe é este o estado consciente dominante. A vida apareceu no nosso planeta há 3,6 mil milhões de anos. Só nos últimos 6 milhões o Homem e Macaco se separaram de um antepassado comum. Até aí vou admitir que os nossos antepassados eram felizes quando conseguiam caçar, encontrar abrigo. A infelicidade residiria na morte, doença, fome. Mas a evolução dita um estado crescente de consciência. Será que implica também um estado maior de felicidade?

Há tempos lia sobre a forte correlação comprovada entre o casamento e a felicidade.  Pessoas casadas são tendencialmente mais felizes que pessoas não casadas. Pensamos todos: o casamento induz felicidade. Mas não será o contrário? Não há um lado de felicidade endógena dessas duas pessoas que as leva a casar? O casamento torna as pessoas mais felizes? Ou as pessoas mais felizes casam mais frequentemente?
Em que consiste a felicidade? É um skill com o qual nascemos? Um instrumento para atingir algo? Um objectivo de vida? Um resultado das nossas acções e pensamentos?

Inclino-me para pensar que existem dois tipos de felicidade:

Por um lado, a felicidade mais instintiva comum a todo o mundo animal, consciente ou inconsciente. Um conceito de felicidade mais associado ao prazer.

Por outro lado, a felicidade enquanto conceito humano. Um conceito de felicidade mais associado a expectativas.

Em relação à primeira, tendo a acreditar que a felicidade é apenas um instrumento. Um instrumento de sobrevivência.
Não posso deixar de imaginar 3,6 mil milhões de anos de evolução onde a sobrevivência da espécie é a única coisa que interessa. Milhões de anos repetidos em que o único objectivo é sobreviver. Se por felicidade, entendemos o tal conjunto de sensações agradáveis, o prazer, a minha interpretação é a de que a felicidade é instrumental para a sobrevivência. Porque é que os animais procuram a comida? Porque é que os animais procuram o sexo? Porque estão preocupados com a sua sobrevivência? Talvez. Mas em primeiro lugar pelo prazer associado. Se comer não transmitisse uma sensação positiva, quem comeria? O mesmo com o sexo. A selecção natural ditou que o prazer dessas sensações estaria intimamente ligado à sobrevivência. E se a felicidade representa o tal conjunto de sensações agradáveis, então a felicidade é apenas um instrumento para a sobrevivência das espécies. Não é um fim, mas um meio.

Mas também existe um lado exclusivamente humano da felicidade, associado à nossa consciência individual e colectiva. É um conceito de felicidade que vai para alem das sensações e emoções. Indissociável da consciência que temos quer de nós próprios quer do mundo que nos rodeia
e das expectativas que criamos para nós nesse mundo.

O nosso maior nível de consciência dá-nos essencialmente duas coisas.
Por um lado, uma maior noção de quem somos. Essencialmente uma melhor noção do nosso passado e uma mais clara noção da incerteza do nosso futuro. A questão “donde vimos e para onde vamos” é uma interrogação exclusivamente humana, fulcral para este conceito de felicidade.
Por outro lado, uma maior noção do papel que temos e podemos ter para o colectivo. Porque sabemos que existimos. E sabemos que outros existem. E medimos a nossa existência contra a dos outros. E sabemos que essa medida umas vezes é superior e outras é inferior à medida da existência dos outros membros da nossa espécie. E sabemos que a diferença dessa medida tem necessariamente sensações agradáveis e desagradáveis. É por isso que essa medida não deixa de ser um reforço ou ameaça à nossa sobrevivência.
Este maior nível de consciência, acredito, permite-nos alcançar níveis de felicidade mais extremos. Quer mais altos, quer mais baixos.

A Felicidade é um alvo em movimento. Corresponde ao preenchimento das nossas expectativas. Quais expectativas? Antigamente eram as expectativas do momento. Mas as nossas expectativas são cada vez mais complexas. Já não têm que ver somente com o dia-a-dia: comer, abrigar, estar seguro.
O cada vez maior nível de consciência própria aumenta as expectativas que criamos.
Se as expectativas que criamos de nós próprios aumentam, a felicidade ou a infelicidade podem atingir níveis superiores.

São dois níveis de felicidade diferentes, não necessariamente correlacionados.
Acho que a distribuição da felicidade é hoje muito diferente da de há milhões de anos atrás.
Teremos seguramente muito mais felicidade e muito mais infelicidade à medida que os níveis de consciência aumentam.
No nível mais básico das nossas expectativas, não somos muito diferentes dos nossos antepassados.
Ao nível da consciência individual, é cada vez mais complexa a definição de expectativas para nós próprios. Por um lado temos uma  cada vez omaior consciência da heterogeneidade humana. Por outro, cada indivíduo compete num mundo cada vez maior. Já não chega ser o melhor da aldeia. É preciso ser o melhor do mundo. E ser melhor, já não é tão simples como ser o mais forte, o mais bonito ou o mais inteligente.

Para sermos felizes, acredito que precisamos de quatro coisas:
1. Procurarmos o prazer em tudo o que fazemos no dia-a-dia
2. Atingirmos as expectativas que temos em relação a nós próprios
3. Sermos nós próprios a definir as expectativas em relação a nós
4. Garantirmos que essas expectativas dão um significado à nossa (efémera) existência

Sugiro começar pela ordem inversa.

3 comentários:

  1. Como sempre Nuninho adoro as tuas ideias e a maneira como as expões!!!!!!
    Mummy

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  2. Puseste-me a pensar e concordo com grande parte do que disseste.
    Para mim a felicidade são estados pelos quais vamos passando consoante conseguimos atingir as nossas expetativas! Aquilo que desejamos num determinado momento!
    Não acredito na felicidade eterna ou constante. Acredito sim que se quisermos conseguimos ter momentos felizes! Mais ou menos duradouros.
    No final a felicidade depende de cada um de nós! Do querermos ou não ser felizes! Ou de conseguirmos ou não criar a nossa própria felicidade!
    Beijinho grande

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  3. OS 4 TÓPICOS DIZEM TUDO.REALMENTE SOMOS FELIZES QUANDO CONSEGUIMOS CONCRETIZAR OS NOSSOS SONHOS.QUANDO ATINGIMOS AS EXPECTATIVAS QUE IDEALIZÁMOS OU PELO MENOS ALGUMAS.NUNCA TEMOS TUDO O QUE QUEREMOS E TUDO NÃO DEPENDE SÓ DE NÓS MAS TAMBÉM DOS OUTROS, PRINCIPALMENTE DE QUEM ESTÁ MAIS PERTO. SER TOTALMENTE FELIZ É UMA UTOPIA. SOMOS NA MINHA MANEIRA DE VER, MEDIANAMENTE FELIZES, COM MOMENTOS DE MUITA FELICIDADE MAS COM MOMENTOS DE INFELICIDADE.
    SÓ SABEMOS O QUE É FELICIDADE PORQUE SABEMOS TAMBÉM O QUE É CHORAR, TER DORES E TUDO O MAIS QUE NOS FAZ INFELIZ.
    HÁ QUE BUSCAR E TENTAR LUTAR POR ELA, ESSA TAL DE FELICIDADE.
    GOSTO DO QUE ESCREVE E COMO ESCREVE. E JÁ AGORA , FELICIDADES,

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